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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O que deve ser nosso? vosso? ou de todos?



A verdade é seguinte: o que é meu é meu, o que é seu é seu, mas o que é nosso será sempre nosso, assim como o que é vosso é só de vocês. O nosso nunca pode ser de vocês, nem o que é vosso não nos pertence, entretanto, quando todos nós quiséssemos compartilhar o que é de cada um de nós em nome da globalização e direitos humanos, temos que fazê-la de forma igualitária. 
Esta matéria deve servir de lição para cada um de nós, em termos de pensar sobre o bem comum da humanidade. Pois, todos nós somos capaz, às vezes o que nos falta é a oportunidade ou uma chance.
Este fato aconteceu durante um debate ocorrido no mês de Novembro do ano 2000, em uma Universidade, nos Estados Unidos, quando o ex-governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque (PT), foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Segundo Cristovam, foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para a sua resposta:
No entanto, falou o seguinte: "De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a  internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo e risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade. Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado.           Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou
de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.
         Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveriam  pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida.
        Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa."

Obs: Esta matéria foi publicada no “The New York Times”, no “Washington Post Today” e nos maiores jornais da Europa e Japão, no mês de agosto de 2001. No Brasil não foi publicada.

(*) Cristóvam Buarque foi governador do Distrito Federal (PT) e reitor da Universidade de Brasília (UnB), nos anos 90, foi ministro da Educação entre 2003/2004. É palestrante e humanista respeitado mundialmente.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Egito Vs políticas revolucionárias


Meus queridos, 
A precariedade dos regimes políticos não ocorre somente no mundo árabe, nem nos países comunistas, mas, também como nos países capitalistas e “intitulados de Ocidentais”.  Muitos destes países são sustentados por aparatos militares que, se lhes conferem uma aparência externa de força, escondendo a fraqueza de suas instituições e a debilidade das relações entre Estado e sociedade. Configurações políticas, de tão manipuladas hipocritamente parecem ser eternas, provocando uma espécie de conformismo, até mesmo uma preguiça intelectual para confrontá-las.
É bem verdade que isso deveria acontecer a muito tempo, em todos os países dirigidos por presidentes corruptos, mas, só a partir da insurreição popular na Tunísia, que pôs fim aos 23 anos de governo do Presidente Zine Ben Ali. A barreira do medo já ta sendo quebrada e a população saiu às ruas em diversas capitais árabes, em demonstrações que revelaram o descontentamento com seus governos corruptos, repressivos e alinhados a um Ocidente que sustenta democracias de fachada na região em defesa de seus próprios interesses.  E, foi no Egito que ela atingiu o patamar de situação revolucionária, mobilizando a imprensa mundial e preocupando Washington, Berlim, Paris e Jerusalém.
Hosni Mubarak se tornou uma peça fundamental no equilíbrio de forças na região na após a guerra do Yom Kippur (quando as forças armadas egípcias cruzaram o canal de Suez para atacar alvos israelenses em 1973), além de ser a maior e mais desenvolvida das nações árabes é o único país da região com poder suficiente para desafiar Israel, o Egito é estratégico para os Estados Unidos.  O alinhamento com os EUA fez com que o Egito garantisse a paz com Israel nesses últimos 30 anos, recebendo uma bagatela de US$ 1,5 bilhão anuais em ajuda externa, assim como resistiu a dez anos de exclusão da Liga Árabe (1979-1989). Em suma, a importância estratégica do Egito para os Estados Unidos ficou ainda mais clara quando, no momento em que Barak Obama quis mandar uma mensagem de recomeço nas relações com o mundo muçulmano, escolheu o Cairo como cenário de seu discurso.  
Lamentavelmente a política externa norte-americana, que nos últimos trinta anos preocupou-se com o crescimento do mundo árabe e deixaram de acompanhar os desenvolvimentos econômicos e sociais dos países, recusando-se a entender e lidar com os sinais claros de mudança que há muito se manifestam no mundo.
Portanto, o discurso a favor de Mubarak como uma proteção contra a ameaça fundamentalista carece de efeito, o que conseqüentemente, desnuda o caráter repressivo e despótico de seu governo, já  que há muitos anos forças verdadeiramente democráticas, em essência, são sufocadas violentamente no Egito sob a cumplicidade americana e israelense que insistem na fantasia de que a brutal repressão estatal é preferível à ascensão de grupos radicais. Por certo a temida e freqüentemente superestimada Irmandade Muçulmana tem um apelo político principalmente perante as camadas mais pobres da população. Porém, é um erro acreditar que essa teria um poder de mobilização tal que levasse o Egito a uma revolução islâmica nos moldes daquela iraniana de 1979, já que existem outros líderes que seduzem uma parcela significativa da sociedade egípcia.
Pegos de surpresa, os Estados Unidos vacilam em posicionar-se em face daquilo que parece inevitável: a queda de Hosni Mubarak. Já Israel não esconde a sua gratidão por este último, expressando publicamente o medo de que “radicais”  assumam o poder. A hesitação americana e o desespero israelense continuam não levando em conta as opções moderadas que se apresentam no momento, seja nas figuras de Moussa e El Baradei ou de grupos que havendo a possibilidade de eleições verdadeiramente livres certamente se aglutinarão na forma de partidos políticos alternativos àqueles existentes.
As grandes potências, os EUA, G7 e os imperialistas “países exploradores” devem voltar suas atenções e resolver as questões sobre os direitos humanos, sobre o meio ambiente, a pobreza, a fome, as doenças, a violência, o preconceito, o racismo e todos os fatores que estão tornando este mundo cada vez mais inseguro e vulnerável. Assim, deixarem de manipular a opinião pública por conta dos seus interesses, deixarem de fabricar armas e bombas nucleares ou de usá-las, só assim pode haver caminhos para um mundo igualitário. Por outro lado, nós os povos que estão sendo massacrados e camuflados, (principalmente na África, Ásia e America Latina) temos que fazer igual o que aconteceu no Egito e na Tunísia. Mostrar que a força do povo está acima de qualquer tipo de política ou ideologia e, a voz do povo é a voz de DEUS. (a revolução é bom só quando for pacifica, com todos os direitos).